Cheguei em casa. Vi na mesa do computador o livro que eu terminara de ler ontem à noite. Ler Marley & Eu foi uma das coisas mais prazerosas que fiz nos últimos meses. Foi ótimo.
O livro é realmente tudo o que falam dele - e o que esperam dele, provavelmente... ou ele não seria o 1º colocado tanto no New York Times quanto na Veja. Foram quase 270 páginas de muita comédia, carinho por um companheiro durante mais de uma década e drama.
Então, acho que vou arriscar. Vou tentar fazer pessoas lerem esse livro que fala do Marley, um dos cachorros mais sem noção que eu já tive notícia. Igual a todos os cães do mundo.
Mas não adianta marketear. Nunca vi alguém que gostasse de cachorros sem nunca ter tido um quando criança. Acho que o vírus canino se instala na gente só até certa idade, mas...
Se fosse pra resumir o livro, eu diria que: ele fala do começo da vida de casado do autor e como ele resolveu comprar (sem muito estudo) um cachorro Labrador pra despertar O Lado Mãe (tm) da esposa. Narra os nascimento dos 3 filhos do casal, 2 mudanças de casa, crises e muitos "causos". Tudo envolvendo o cachorro. E pelo autor ser jornalista e ter mantido um diário por esse tempo, os detalhes e as lembranças são muito bem contados. Mas sempre há um pouco de maquiagem nos diálogos... enfim. São mais ou menos 13 anos da vida de um Labrador amarelo, lindo, entrelaçados com o crescimento de todos os envolvidos. E eu disse "lindo" porque o livro tem fotos no começo e no fim, pra mostrar como ele era quando filhote e como já estava perto de morrer.
Se você também esperava mais de Viagens com o Presidente e tá totalmente sem saco pra terminar de ler outros livros (talvez 2 bem densos, quem sabe?), que tal ler um livro light e "de metrô" antes de deitar?
Quem me conhece sabe que o meu amor por cachorros é quase tão grande quanto a cara de pau do presidente de vocês. Foi com esse livro, ontem, que eu admiti pra mim mesmo, sem me espantar mais com esse tipo de pensamento, que eu de fato vejo mais valor num canino do que em qualquer ser humano que eu já conheci na vida. Eu salvo um Labrador, como o Marley, ou um Pastor Alemão com mais disposição do que eu teria pra salvar um ônibus cheio de reféns humanos.
Mas o que me fez mesmo decidir tentar convencer as pessoas a lerem este livro (supondo que elas gostam de animais ou cachorros também, não importando o grau), foi o quanto eu me deixei emocionar por um livrinho de merda. Apenas 270 páginas e eu me peguei chorando pesadamente ontem à noite lendo as 4 ou 5 que descreviam como foi a morte do Marley. Triste, mas digna... e me lembrei imediatamente de todos os cachorros que eu já tive ou ainda tenho, e senti um vazio tão grande e forte, que, por segundos, eu desejei voltar no tempo só pra passar a mão na cabeça de cada um deles e dizer que os amava ainda, apesar da "distância". E fui dormir chorando baixinho, morrendo de saudades. Coisa rara em mim.
No Pará eu tive a Paty, uma vira-lata encorpada e amarela, com o peito meio branco. Lá tive também o Iraque (nome dado por causa da época, Guerra do Golfo e tal... e também porque a mãe dele se chamava California, outro nome de lugar). Eu pude passar muito pouco tempo com eles, já que me mudei pra São Paulo não muito tempo depois. E então um dia ligaram do Pará avisando que ambos haviam parado de comer direito desde a mudança. E haviam ficado doentes... e morrido.
Antes deles eu acho que tive um cachorro em Itanhaém (litoral paulista), mas infelizmente eu era muito menino, e nem lembro a idade. Talvez meus pais possam confirmar um dia.
Quando me mudei pra Praia Grande (também no litoral de São Paulo), eu conheci o Tiger. Ele era O Cachorro da Minha Vó e do Meu Tio (tm). Um vira-lata filho da puta de camarada, a ponto de ficar de guarda na beira do mar enquanto os netos ficavam dentro d'água (e latia devidamente se alguém ia pro fundo!), e era amarelo também (daí o nome dele). Era o cachorro highlander, a gente brincava. Incrivelmente ele viveu uns 13 anos, como o Marley, e espacapou de tantos acidentes graves... falta de oportunidades pra morrer ele não teve. Ele se foi "outro dia", na minha mente, dormindo. Tava bem velho e doente, mal se levantava. Ao contrário do Marley The Dog (tm), o Tiger teve uma morte mais canina, sem injeções.
Hoje eu tenho uma família Ramones de verdade. Minhas pastoras alemãs Ramona e Sheena são lindas, engraçadas e cheirosas (e como adoro o cheiro de cachorro... sujo mesmo, nada de xampu fofinho da Barbie). E tem o CJ também, "doguie" tipo atlético que mora com a minha vó. E o Joey, que nunca mais eu vi, pois fora dado quando filhote. Minha Ramona é a mãe de todos eles. Todos negros e peludos, com a gravata (a língua enorme pra fora, meu filho) pingando suor no litoral da Praia Grande. Pena eu estar morando longe deles... porque Curitiba não foi feita pra se criar cachorros grandes e com espaço.
Pra quem ficou curioso pra saber o quão retardao, bonito, bobalhão e alegre é o Marley, tem um vídeo no YouTube com as cenas em que ele aparece no filme The Last Home Run. Fãs fizeram essa homenagem, acho. O mais incrível é que depois de ler o livro, essas cenas são tão... reais! Eu achava que o autor exagerava, mas em cada cena eu reconhecia exatamente em detalhes o comportamento daquele Labrador. E isso, sim, me impressionou. Ele não foi nenhuma Lassie ou Benji (muito pelo contrário), mas esse livro foi uma das maiores declarações de amor que eu já vi de um humano pra um cachorro.
O livro conta coisas como: a escolha do filhote "ideal", as brincadeiras caninas do Marley (que geralmente envolvia roubo e destruição seguido de fuga espetacular), o aborto da mulher do autor e a reação do cachorro (nada fora do comum pra quem conhece esses bichos), tentativas de adestramento (profissionais e feitas em casa), terremotos caninos e arrastamento de restaurantes por um cachorro só, o medo natural dos raios e tempestades (que em geral incluem auto-mutilação e ferimentos), A Praia dos Cães (tm), a vida pacífica de um cão entre frangos e galinhas, as dificuldades de um cachorro idoso vivendo em região com colinas e neve, a quase-morte do Marley e a fatal ida dele de vez.
Existem trechos hilários no livro. Coisas absurdas que aconteceram e que quando eu percebia já tava com o livro deitado no peito tentando abaixar o volume da risada. A melhor de todas é a parte sobre a participação do Marley no filme mencionado acima. Simplesmente demais.
O que por sua vez me lembra que os direitos de produção do livro já foram comprados, e um filme sobre o livro e a vida do Marley sairá em 2008. Alguém duvida que ele será um sucesso, assim como o livro? Sei lá, mas que achei uma baita coincidência a Veja fazer na mesma semana que eu lia o livro uma matéria de capa sobre o relacionamento milenar entre cachorros e humanos, isso eu achei. E ainda tinha uma entrevista com o maldito autor!
Mas chega... brinquei demais de catarse canina por hoje. E falei demais, como sempre.