O texto completo é muito melhor que o trecho abaixo recortado. Ele é altamente recomendado pra se aliviar com o modo como a sociedade doente brasileira parece funcionar. Enviado pelo Alex após me ver fazendo graça com um pacote de papelão na cabeça, sexta, no trabalho.
O pacote é de uma excelente sanduicheria curitibana, com delivery
durante expediente yeah!
[...]
— Há tempos deixei aqui uma cabeça.
— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado
da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.
— Ah!
— Tem-se dado bem com a de papelão?
— Assim...
— As cabeças de papelão não são más de todo.
Fabricações por séries. Vendem-se muito.
— Mas a minha cabeça?
— Vou buscá-la.
Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.
— Consertou-a?
— Não.
— Então, desarranjo grande?
O homem recuou.
— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.
Ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.
— Faça o obséquio de embrulhá-la.
— Não a coloca?
— Não.
— Vossa excelência faz bem. Quem possui uma cabeça assim
não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.
[..]