porco nobre de papelão

04 de março de 2007

O texto completo é muito melhor que o trecho abaixo recortado. Ele é altamente recomendado pra se aliviar com o modo como a sociedade doente brasileira parece funcionar. Enviado pelo Alex após me ver fazendo graça com um pacote de papelão na cabeça, sexta, no trabalho.

O pacote é de uma excelente sanduicheria curitibana, com delivery durante expediente yeah!
Caio Cabeça de Papelão

[...]

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado
da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah!

— Tem-se dado bem com a de papelão?

— Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo.
Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— Vossa excelência faz bem. Quem possui uma cabeça assim
não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

[..]

© caio1982