Você foi avisado... post muito longo e enxurrada de links mais abaixo.
Como eu estava cansado e a volta do fim de semana foi meio corrida, só agora consegui escrever sobre o bate-e-volta que eu e a Danielle fizemos até São Paulo, no último sábado dia 24. Bolamos um plano pra ir assistir o musical My Fair Lady, que eu já havia comentado em um post anterior e que inclusive foi o assunto da aula trote mais interessante que já vi (e tive).
Resolvemos adiantar a viagem pra não correr riscos de atraso e acordamos às 3:30 da manhã e chegamos ao Afonso Pena às 5:45, após passar alguns apuros com uns 2 maloqueiros na rua, de madrugada, em frente ao ponto da linha de ônibus exclusiva pro aeroporto. A sensação no sábado de manhã era de estar atravessando Silent Hill, sem sacanagem. A quantidade de neblina era assustadora, e estava em todos os lugares: do centro da cidade até a serra depois do aeroporto.
Se o aeroporto estava num estado Silent Hill é claro que tudo atrasou... e muito. Nosso vôo só foi sair 11:10, se não me engano, e chegou ao meio-dia em ponto em São Paulo. Mas se um dia você estiver no aeroporto de Curitiba esperando seu vôo, tome o chocolate quente que vende na Damasco do primeiro piso. É simplesmente delicioso, e nem é tão caro. Após esperarmos algumas hora, já na sala de embarque, acabamos levantando vôo com um céu limpo e azul. Nem parecia que a região estava numa dimensão paralela horas antes. A rota era pelo litoral paranaense e depois pelo paulista, até passar por cima da minha cidade (Praia Grande) e cruzar a Serra do Mar até Congonhas. Uma das viagens mais bonitas que já fiz.
Chegando em São Paulo começou a aventura de verdade. Pela primeira vez eu estava contando com a própria sorte e sem direito ao metrô da cidade, e em regiões que nunca havia visitado sozinho. Conseguimos pegar um ônibus que iria até a Praça da Sé e ficamos no meio do caminho em um ponto em frente ao Parque do Ibirapuera (o Bariguí feito direito) e... ponto pra nós!
Chegamos lá totalmente suados, sujos e já bastante cansados pra tentar ver a exposição Corpo Humano: Real e Fascinante. Tentamos emendar o roteiro até a exposição pra melhorar o dia, mas aparentemente os 11 milhões de paulistas da metrópole pensaram na mesma coisa. Eu havia reservado e pago os ingresos pra mim e pra Danielle quase 1 mês antes pela Internet, mas a fila kilométrica pra entrar na Oca destruiu as nossas esperanças de ver cadáveres conservados com silicone e dissecação alto nível do corpo humano em forma de "arte". Essa exposição tinha tudo pra ser ótima, mas não deu certo.
Após desistirmos (e guardarmos amargamente os bilhetes de entrada não usados na mochila) nós resolvemos almoçar no restaurante do parque, andar entre os bosques, tomar sorvete e descansar olhando os chafarizes que tem lá. Acho até que se tivéssemos entrado na exposição nós acabaríamos nos atrasando pro resto do programa do dia, então até que teve um lado bom nessa história. Quando deu mais ou menos 3 da tarde nós resolvemos ir embora; só que aí descobrimos que a saída onde pegaríamos o ônibus ficava do outro lado do parque, e tivemos que andar muito, muito mesmo. Depois de andar uns 10 quarteirões a Danielle (já descalça à essa altura) e eu chegamos na Avenida Ibirapuera pra pegar qualquer ônibus que pudesse nos levar até o Terminal Santo Amaro, onde supostamente teríamos transporte fácil até o Teatro Alfa, onde aí sim (finalmente, porra!) nós veríamos My Fair Lady às 17 horas.
Até que chegamos no horário em frente ao Teatro Alfa, após pegar um táxi de emergência por não conhecermos nada da região em volta da Av. Nações Unidas. Aqui já dá pra perceber que eu chequei o Google Maps até cansar, certo? Na entrada do espetáculo a gente se olhou de lado e percebemos a arapuca: todo mundo super bem vestido e chegando de carro importado, com direito a empregado abrindo a porta para as madames paulistanas cheias de jóias e crianças de terninho e vestido. Visualize: duas pessoas sujas, suadas e cansadas chegam num teatro desse naipe com mochila com estampa da camuflagem nas costas e bermuda tactel e correm pro banheiro pra se trocar, passando no meio do hall de entrada descabelados :-)
Enfim, nossos lugares ficavam no mesanino, no andar superior da platéia. No começo até achei que ficaríamos muito longe do palco, mas quando começou o musical eu tive certeza que era um dos melhores lugares (perdendo somente para os camarotes laterais, é claro). De lá conseguíamos ver todo o show e podíamos enxergar os cenários por inteiro. Tendo os cenários umas 10 toneladas e alternáveis no palco dentro de 40 segundos (segundo fontes oficiais) isso foi uma ótima coisa! Contudo, o som lá de cima eu admito que podia ser bem melhor (especialmente a amplificação dos instrumentos da orquestra).
A adaptação nova feito no Brasil é bastante fiel ao filme (e infelizmente não consigo comparar com o musical original); fiquei espantado com o nível de detalhes iguais. Devo ter falado mal do ator que faz o Mr. Higgins pra algumas pessoas, mas no fim das contas o Daniel Boaventura se saiu muito bem, apesar de ser bem jovem pro papel de um mestre em fonética cinquentão. O jeitão machista e prepotente do filme ficou perfeito nele, que tem um porte grande e topetinho estratégico.
A atriz que interpreta a Eliza Doolittle é aquela Amanda Acosta que cantou no Trem da Alegria quando era criança. Ela já na fase de lady ficou impecável, e canta maravilhosamente bem. No começo da peça não achei que ficou tão legal o sotaque dela e a caracterização de "pobre, burra e histérica" do original, mas vá lá. Inclusive a Amanda estava na capa da última revista Bravo! sobre musicais no Brasil. Pela capa você tem uma ótima idéia do alto nível do figurino da peça. Perfeição pura. A capa dessa edição da revista dá um monte de água na boca pra ir ver a peça mais algumas vezes :-)
O ator que fez o Coronel Pickering deixou a desejar (principalmente no forte sotaque que nem percebi e no jeitão abobalhado que deveria na verdade ser o de um sábio cansado mas elegante gentleman), mas o pai da Eliza ficou tão convincente e cafajeste que no fim do show o público se empolgou quando ele entrou no palco durante os agradecimentos finais. Os outros atores eram tudo menos figurantes. Eles cantavam bastante também e todos tinham alguma participação na trama, assim como no filme.
Voltando ao musical em si. Os cenários também estavam bonitos e todos tinham bastante detalhes visíveis pra quem estava esperando a adaptação, ao mesmo tempo em que eram visualmente simples. A história de trocar todo o cenário em 40 segundos é pra valer; impressiona ver uma casa com escada, biblioteca e mobília virar uma rua com bar, carroça e uma coluna branca gigante com um monte de gente passeando em volta após alguns segundos. Sobre o figurino eu não consigo pensar em nada melhor que "estupendo e maravilhoso" pra falar. A cena das corridas em Ascot com todo o cenário e figurino em preto e branco extremamente sofisticado pra homenagear o filme ficou linda.
A adaptação das letras também ficaram legais, não apelaram pra um português fresco nem traduções ao pé-da-letra e continham sutilezas como adaptar o trava-língua da Eliza "the rain in spain stays mainly in the plain" para "atrás do trem as tropas vêm trotando". Assim como as músicas do filmes, as da adaptação são chicletonas e foram executadas com perfeição absoluta pela orquestra no fosso do teatro. Eu, juro de verdade, não consegui achar nada das músicas que fosse diferente do original. Eu até mesmo fiquei ouvindo hoje as originais e não percebi absolutamente nada de errado na adaptação. Trabalho de alto nível na produção.
Bom, quem me dera ter dinheiro sobrando como aquelas famílias quatrocentonas de São Paulo pra poder ver My Fair Lady outras vezes mais. Suas 3 horas não foram o bastante.
Após o show pegamos um táxi com um motorista alucinado que saiu correndo no gás e nos respondendo de forma bem mal educada até o Term. Santo Amaro. Lá descobrimos que o nosso ônibus até a estação Clínicas do metrô não circulava aos sábados, rá! Como eu sou paranóico, já tinha um backup pra transporte. Descemos na Av. Paulista e fomos até o América pra comer alguma coisa assim deliciosa. No caminho até lá atravessamos o quarteirão por dentro da FNAC e eu quase tive infartes seguidos ao ver um iMac de 24 polegadas e outros gadgets caros na minha frente.
Após um jantar classe A (sim, eu sei que como lá e não canso nunca)... ida rápida de metrô até o Term. Tietê pra pegarmos o ônibus da volta. A idéia era descansar dormindo de madrugada dentro do ônibus, mas isso ficou meio complicado ao percebermos a sucata que a viação Cometa chama de ônibus e cobra um absurdo pela passagem. A Danielle nessa hora não se aguentava de pé mais, de tão cansada que tava após eu tirar o cabaço aéreo e metrôviário dela no mesmo dia (segundo ela mesma falou).
Ainda estou meio moído pelo cansaço, mas como última tarefa eu tenho obrigação de recomendar a todo mundo que conheço que vá ver My Fair Lady em São Paulo. Gastaram quase 12 milhões pra fazer o musical e uns 8 milhões são pra manutenção do show, então é provável que fique alguns meses em cartaz. Não posso, infelizmente, opinar sobre a exposição Corpo Humano na Oca, mas acredito que valha a pena também.
Algumas fotos do dia estão na galeria My Fair Lady no Ueberalles mesmo (clica na frase, esperto). Como experimento, todas as fotos do dia foram tiradas no modo burst da minha Canon, pra tentar tirar o máximo de fotos boas possível mesmo em movimento e com as mãos balançando. Funciona, acredite. Modo burst é o que há e eu nunca havia usado ele :-)
"Resumindo", foi assim que eu comemorei de verdade meus 4 anos de namoro com a Danielle e tenho certeza que seria um ótimo programa (ainda que um pouco caro) pra qualquer casal querendo passar um dia divertido longe de casa e voltar com ótimas recordações culturais. Você não pode ficar sem assistir My Fair Lady.