POST GIGANTESCO À VISTA, VOCÊ FOI ALERTADO
Agora que eu já chorei as pitangas sobre ser um aluno de letras em um post passado eu finalmente tenho tempo pra falar sobre o que interessa mais: o conteúdo do curso e cada semestre comentado. Obviamente é um work in progress, já que eu ainda estou pra começar o quinto semestre e faltam pelo menos outros três pra me formar no tempo esperado. Venho escrevendo essas anotações há quase 2 anos, e provavelmente continuarei por outros 2 até pegar meu bacharel. Conforme o tempo for passando, no final de cada semestre, eu atualizarei o post com o que for relevante sobre cada disciplina feita, assim dá pra ter uma idéia geral sobre como é letras na UFPR, do meu ponto de vista. Como efeito colateral positivo eu vou acabar tendo anotações sobre o que vi em cada disciplina, então isso servirá como um guia pra re-estudar tudo num futuro possível. Quem sabe eu não consigo até convencer a Danielle a fazer algo semelhante pro curso de Economia dela, eu mesmo me interessaria em ler sobre as matérias que os outros já cursaram.
Uma coisa importante pra se lembrar é que no ano seguinte ao que entrei na UFPR os currículos dos cursos de letras sofreram modificações subtanciais que comentarei por cima. Eu estou no currículo de 2001 e calouros desde o ano passado no currículo aprovado em 2007. Basicamente o que muda é que agora o curso tem 1 ano a mais (indo pra 5 se você se formar na época certa e tem carga extra de 200 horas pra ir obrigatoriamente em eventos ou congressos da área).
A maior vantagem do currículo novo em relação ao meu é que desde o terceiro semestre os tempos pra matérias optativas é bem grande, ao contrário do meu onde isso só começa a acontecer no quinto semestre pra valer; por exemplo, pela primeira vez eu tenho espaço suficiente na grade horária pra fazer 3 disciplinas obrigatórias e 3 optativas, ao mesmo tempo. Na verdade eu poderia até fazer 3 obrigatórias mais 4 optativas, só que acho puxado demais pra valer a pena pelos créditos extras. O lado ruim é que as turmas ficam truncadas pra quem é novo e tem que dividir classe até isso se estabilizar e os 2 primeiros semestres ficam muito mais puxados, com a desvantagem adicional das matérias em outras línguas ficarem mais separadas na grade (no currículo 2001 é praticamente 2 matérias em inglês por semestre, no novo é somente uma e isso quando tem uma disponível em cada semestre). Uma outra coisa relevante mas que muda pouca coisa é a alteração de nomes de algumas matérias, mas as ementas continuam as mesmas. Nesse caso eu usei os nomes velhos mas anotei os novos. Matérias como Teoria da Literatura e Iniciação à Pesquisa Científica vão pro primeiro ano (eram no segundo). Azar dos calouros em uma, sorte na outra.
Enfim, a idéia era montar uma espécia de instantâneo do que eu passei, pra arquivar.
Período: 1º Semestre de 2007
HE277: Inglês Básico
Essa matéria serviu meio como um aquecimento geral no inglês da classe,
um warmupzinho pra todos saberem de seus níveis e relembrar o que há
muito não treinavam em inglês, afinal era o primeiro semestre da turma e
ninguém sabia o nível de ninguém (apesar dos testes de nivelamento nos 2
primeiros dias). A professora era substituta mas com mais tato e
competência pra dar aula do que muitos titulares, a Silvana Polchlopek
(de SC e que morou alguns anos nos EUA) sempre foi atenciosa, porém
eu sentia às vezes que o nível da turma não aumentava muito porque ela
talvez não puxasse com mais força. No começo ela chegava a falar 80%
inglês e 20% português até o pessoal acostumar, mas o semestre serviu
mesmo pra um nivelamento e pra turma se soltar. Dever cumprido, além de
ela ter dado até mesmo uma introdução básica de fonologia pra todo
mundo!
HE282: Língua Inglesa Escrita I
Não tem muito o que dizer da primeira matéria escrita em inglês na
verdade. No segundo dia de prova fiz um teste de adiantamento dessa
matéria (uma regalia que os cursos do Departamento de Letras permitem) e
acabei pulando ela. Não precisei cursá-la e ganhei como nota minha
pontuação em um texto simples de 100 palavras, se não me falha a
memória. Só não vou lembrar o assunto com total certeza, nem pergunte,
talvez fosse algo sobre educação alimentar e vida saudável.
O teste de adiantamento, que no dia anterior teve um equivalente oral com as mesmas regras, podia te adiantar de 1 até 3 semestres. Uma belezura, mas imagine o desespero dos calouros ao saber que passariam por 2 baterias de testes nos 2 primeiros dias de aula. O que importa é que o pessoal que acabou fazendo esta disciplina parece que gostou bastante pelo fato do professor Erasmo Gruginski ser atencioso e paciente (que por acaso, e curiosidade, fez mestrado e doutorado em linguística nos EUA e diz a lenda tem sotaque próximo a zero). Não tive a oportunidade nem de conhecê-lo, infelizmente.
HL201: Língua Portuguesa I
Apesar dos métodos da Maria José Foltran não terem agradado boa
parte da turma eu gostei dessa disciplina, não era algo que eu estava
esperando exatamente. Como curiosidade, a Mazé (como era chamada) é uma
das corretoras do vestibular da UFPR. Basicamente líamos algumas coisas
curtas e escrevíamos horrores. Um texto tinha que ser terminado e
entregue por semana, em média, algo como 1 folha inteira de palavras. A
idéia era treinar estilos e saber diferenciá-los corretamente, inclusive
em contextos ambíguos. Numa semana uma resenha, na outra um ensaio, na
seguinte uma crítica e na outra sei lá o que mais. Até mesmo "fórmulas
de redações escolares de cursinhos" foram estudadas como tipos de textos
batidos e que devem ser desencorajados, fato que me deixou intrigado. Se
futuros professores estudam e aprendem que isso é um problema a
combater, como diabos eles promovem isso depois de formados?
A forma como a disciplina foi dada poderia ter sido usada em outras matérias em inglês do curso. Eu sentiria falta disso especialmente em Língua Inglesa Escrita IV mais abaixo. A disciplina até que não era monótona, assistimos diversos documentários pra discutir em texto como: 11'9''01 September 11 (do qual, se não me engano, escolhi o Ken Loach pra analisar), o clássico antigo Ilha das Flores do Furtado e Zagati do, oh, curitibano Mauro Alice. Cada coisinha dessas rendia um texto que era castigado em rasuras vermelhas pela Mazé e pela sua monitora carrasca querendo mostrar serviço. Cada um desses textos iria compor a média final (sem provas ou outro tipo de avaliação). Se bem me lembro o único livro usado foi o Prática de Texto do Faraco e do Tezza. Sim, o mesmo Tezza professor do meu curso que tá ganhando prêmios um atrás do outro por Filho Eterno, mas que na minha opinião não merece tanto assim por esse livro.
HL222: Linguística I
Uma das matérias mais legais que já tive no curso, Linguística I é uma
espécie de guarda-chuva das disciplinas de linguística. É nela que você
aprende pra que serve e o que estuda cada uma das grandes áreas, e
nela se tem uma introdução bem superficial de cada uma delas. Suspeito
que o conteúdo de fonética e fonologia era pra ter sido maior, mas
demandaria conhecimentos que a gente ainda, infelizmente, não tinha.
Mesmo assim fizemos boas atividades sobre ambas, tivemos por exemplo que
transcrever foneticamente 30 segundos de áudio gravados de algum canal
de televisão. Acho que eu fiz sobre alguma chamada do Jornal Hoje, da
Globo. Parece pouco, mas dá o equivalente a uma folha A4 cheia, sem
espaços em branco ou quebra de linha, com streams como
[ˌsupərˌkæləˌfrædʒəˌlɪstɪkˌɛkspiˌælɪˈdoʊʃəs] e similares.
Claro que não poderia faltar a nossa dose inicial de Sausurre e toda a história da linguística. Utilizamos basicamente cópias de textos e o livro vermelho da Fernanda Mussalim, o primeiro de uma série de três, Introdução a Linguística. Um dia eu ainda compro os três mais o Curso de Linguística Geral atribuído ao suíço pioneiro. A Lígia Negri é figura carimbada no departamento e parece um doce de professora para os calouros assustados que chegam todos os anos; não sei se a conheço bem o suficiente pra falar isso mas eu gostei muito de ter tido aula com ela, ainda que tenha sido praticamente só um preview do curso de linguística.
HL390: Estudos Clássicos I
O que era pra ser minha iniciação suprema em história do mundo antigo
quase que perde o ponto e vira um porre graças ao Roosevelt Rocha.
Primeiro: didática beirando zero. Segundo: usava material de outro
professor, o Jorge Piqué. Terceiro: ele basicamente lia o que
imprimia em casa pra gente. Não me interessa se o cara lê e escreve
grego como ele fazia ou o quê, ele tem que ter o mínimo de respeito e
didática pra dar aulas pra turmas mistas de 60 pessoas. A disciplina
começou a ficar muito legal quando eu achei na internerds o site do tal
professor Jorge. Resolvi fazer um mirror no meu servidor e passei a URL
pro pessoal quando ele tirou o conteúdo original do ar. Estudávamos
somente por ali e era melhor que as aulas do Roosevelt, pois ele
simplesmente se limitava a ler os mesmos textos.
Dos livros obrigatórios eu comprei somente a Ilíada (em versos), não achei pra venda naquela época a edição que queria de Odisséia (em versos também). Tive acesso à Ilíada em prosa e não gostei, é muito falso e não passa a profundidade do texto, trabalhado, propositalmente escrito naqueles versos. Ilíada comanda, é uma puta leitura em vários sentidos e um dia eu ainda compro a versão bilíngue. A priori ela servia como tomo educatório pra muitos gregos, e é massa ler em versos os mais velhos até ensinando a fazer churrasco (juro, verdade). Sua visão do mundo antigo muda aqui: você para de ver gregos e romanos como símbolos puros e ultra civilizados. Eles peidam e cagam igual a gente (senão mais!) e isso é muito massa de ler num dos maiores e mais importantes livros da literatura ocidental. Você até pode pular a parte verdadeiramente útil e alugar o DVD de Tróia com o Brad Pitt, mas perderá as partes legais de sangue e violência da história original.
Depois passamos pra Odisséia, que na prática é uma continuação natural da história cantada na Ilíada. Ilíada falou sobre os preparativos e a guerra de Tróia em si até seu quase final, a Odisséia fala do retorno de alguns heróis gregos para suas casas. Os que aparecem são mais como figurantes, quem interessa mesmo é o Odisseu. É um texto que flui bem, você lê relativamente rápido porque em algumas horas parece até histórias em quadrinhos com mais pitadas de fantasia do que a Ilíada tinha. Em exagero, os monstros, coisas fantásticas que acontecem e a mitologia pesada acaba estragando um pouco, mas não é nada que compromete. Faz parte, dá pra passar tranquilo com ciclopes gigantes e sereias gregas. Os valores morais passados pela Odisséia são importantes também, rola até mesmo uma brincadeira com o único amigo fiel que reconheceu Odisseu na volta pra casa depois de 20 anos. Seu cachorro Argos, que ao vê-lo no retorno cai de lado e morre finalmente. Obviamente é uma alegoria, fique frio que não há cachorro na face da Terra que viva 20 anos pra estragar a Odisséia.
Período: 2º Semestre de 2007
HE278: Língua Inglesa Oral I
Infelizmente, o que tinha condições de sobra de ser o turbo que
faltava no nosso Top Gear, Oral I foi uma decepção pra mim. A
professora Erika Ullmann, coordenadora do CELIN, deu aulas como
substituta também, apesar de longos anos dando aulas e sendo manager de
instituições de línguas. Sempre muito simpática e sorridente, era uma
senhora baixinha e de cabelos brancos com sotaque britânico bem
carregado que vivia fazendo piadas. Até demais. Sentíamos que as aulas
se arrastavam porque ela estava cumprindo tabela, perdemos uma grande
oportunidade de alavancar o nível de inglês oral da classe.
HE283: Língua Inglesa Escrita II
Assim como aconteceu com Língua Inglesa Escrita II eu consegui uma nota
suficiente boa no segundo texto do adiantamento no segundo dia de aula
do curso. Dá uma olhada mais pra cima que já foi explicado como isso
funcionou pra mim. O texto era um pouco mais longo que o da disciplina
anterior, algo como 200 palavras, e também não me lembro o assunto. Sei
lá, algo sobre direitos das mulheres ou coisa parecida. Essa disciplina
também foi dada pelo Erasmo Gruginski, professor que todos continuaram a
elogiar e que usava o laboratório com computadores do nosso andar pra
dar as aulas escritas. Quem dera todos fizessem isso.
HL223: Linguística II
Foi com O Digressor Mor, Aquele Cujos Assuntos Nunca Acabam, Luiz
Arthur Pagani, que eu tive essa disciplina que poderia ser muito bem
"morfologia com línguas neutras". Eu fico imaginando há quanto tempo o
Arthur dá suas aulas, mas pelo fato das línguas artificiais que
utilizamos (numa belíssima apostila LaTeX que ele criou e está
disponível no site dele - o código fonte eu tenho, caso interesse
alguém) terem sido baseadas no que uma de suas filhas falava quando
criança, a coisa deve ser antiga, bem antiga. Se você estuda ou estudou
ou estudará no politécnico da UFPR e quiser aulas de linguística é bem
provável que tenha aulas com ele, já que ao que me consta ele faz parte
do lado nerd da força sendo a referência em Prolog e analisadores
gramaticais por lá.
As aulas eram basicamente exercícios de análise e construções morfológicas até cansar. Tinha o Estruturas Morfológicas do Português, do Luiz Carlos de Assis Rocha, como referência, mas não lembro se cheguei a ler partes consideráveis dele em cópias. Chegou uma hora que eu não conseguia ler textos sem analisar os blocos de morfemas nas palavras ou ficar maluco lembrando das línguas artificiais que ele inventava pra analisarmos. Radicais, morfema zero, alomorfia, prefixos, sufixos, circunfixos, suprafixos, infixos, regras morfológicas, composições etc. Apesar dele se desviar com bastante facilidade dos assuntos das aulas, em geral pra contar contos de linguística que até eram interessantes, eu gostei da matéria. Foi um conteúdo precioso pra semestres que ainda viriam.
HL391: Estudos Clássicos II
Continuando a série de 3 professores pra dar conta das aulas do Jorge
Piqué, tive as aulas de lírica latina em Estudos Clássicos II com a
Giovanna Valenza (que até onde fiquei sabendo não havia dado aulas
sobre isso antes, mesmo sendo professora de Latim IV e coisas hardcore
relacionadas). Ela na época parecia ser bem nova, tipo ter uns 23 anos e
recém-mestre. De vez em quando eu brincava chamando ela de
Dominatrix entre colegas, porque ela se arrumava pra aulas algumas
vezes usando couro e era baixinha mignon.
Pra ser mais específico e não ficar no "lírica latina", estudamos primeiramente Catulo e a edição bilíngue de O Livro de Catulo do João Angelo Oliva Neto. Eu cheguei até mesmo fazer uns 2 posts sobre o Catulo, com um trabalho de aula até, portanto sou suspeito pra falar do cara. Eu diria que depois dele eu passei a ver graça em poesia (não comédia, graça de ter prazer ao ler). Catulo era um pervertido, inimigo público, imoral pra época e que fazia o que dava na telha. Como ir contra a estética lírica da época e escrever coisas do dia-a-dia sujo, com estilo descontraído e cheio de diminutivos. Altamente recomendável ler Catulo, e curtir trechos como "meu pau no cu e na boca vou meter-vos, aurelius bicha e furio chupador". Era toscamente engraçado ouvir a professora toda contida tentando ler alguns pedaços mais publicáveis e o pessoal rindo, achando que era pornografia.
Catulo foi basicamente metade do semestre, matéria de trabalho valendo 50% da média final. O resto meio que foi desmembrado entre grupos de alunos pra fazerem apresentações de alguns autores. Os que não quiseram fazer apresentação (como eu, por não conhecer ninguém minimamente responsável pra isso naquela classe) fizeram uma prova sobre todo o material apresentado pelos grupos. Estudamos as Heróides de Ovídio com algumas pitadas de Ars Amatoria e Remedia Amoris, além de As Bucólicas do Virgílio. Que me lembre, de todos esses, na segunda parte da disciplina As Bucólicas foram bem mais importantes do que o resto.
HL394: Língua Portuguesa II
Acho que foi uma das primeiras matérias em que tive que me esforçar
mais que o normal pra passar por média, eu tava meio cansado e comecei a
empurrar com a barriga mas deu tempo de recuperar bem. O pior é que a
matéria era interessante e a professora, a Claudia Campos, era outra
doutora em Linguística e filhote antiga da UNICAMP, como o Arthur, e
dava excelentes aulas. Usamos os livros Ler e Compreender da Ingedore e
Vanda Maria Elias e trechos de outro dos três livros da série
Introdução a Linguística que já comentei antes. Entre alguns alunos a
Claudia era conhecida como "claudinha" simplesmente, a deusa entre as
professoras. Bonita, inteligente, linguista, excelente professora e
dedicada. Pena ter um viés esquerdista cego reprimido. Certa vez todos
tinham que entregar uma análise de linguística textual e várias pessoas
(inclusive eu), por coincidência última do universo, escolheram textos
do Diogo Mainardi e ela acabou soltando uns chiliquezinhos e
tremeliques engraçados quando entregou os trabalhos de volta.
Basicamente em LP II estudamos como um texto se constrói e sustenta, Linguística Textual. Não inspiração ou coisa parecida, mas tecnicamente falando. Coesão, coerência, remissões externas, anáforas e catáforas (referenciamento de idéias anteriores e posteriores), argumentação e textualidade entre o autor, o texto e o leitor. Pode-se dizer que ela é uma porta pra estudar Análise do Discurso mais pra frente, e talvez eu finalmente dê uso real ao Dicionário de Análise do Discurso do Maingueneau & Charaudeau que eu tenho. Um colega de classe fez Psicolinguística com a Claudia de manhã e confirmou que ela é, de fato, excelente professora. Eu ainda pretendo fazer outra matéria com ela antes de me formar, talvez até mesmo Análise do Discurso.
Período: 1º Semestre de 2008
HE279: Língua Inglesa Oral II
E quando você pensa que nada podia piorar e que finalmente as
disciplinas de Inglês Oral iriam dar a volta por cima... fail! Tudo
parecia encaminhado: professora nativa, filha de americano e brasileira
que morou em vários lugares desde França, Austrália e até Havaí e que
morava no Brasil há décadas. Doutora em Linguística e que tinha inglês
invejável, nativo e sem sotaque. Como isso poderia dar errado? Pois deu,
sei lá o porquê. A Márcia Boëchat não parecia se esforçar, ela
enrolava as aulas como se estivesse prestes a se aposentar e não
quisesse ter muito trabalho. Usou o Tapestry como livro guia pra
classe, mas o nível geral da turma até diminuiu na minha opinião. Não
pelo livro, mas pelo nível já não ser alto como eu esperaria e ainda
terem entrado outros alunos de outros anos na classe.
Meus sonhos de tirar o TOEFL ou IELTS em 2008 foram pro água baixo já logo nas primeiras aulas, não consegui ritmo com ela ensinando, mesmo tendo acabado de fazer o curso na Embassy em NYC poucas semanas antes. De que adianta você ter todas as ferramentas e não aproveitar? Pois ela tinha tudo pra ser uma professora de inglês oral incrível, doutora em Neuropsicolinguística ela poderia ter passado muita coisa pra gente, mas foi no máximo se limitar a dar dicas (erradas!) de fonética no fim do semestre, além das situações muito básicas de treino de conversação e fluência. Lembro até como surgiu o lema "In IPA We Trust" entre os alunos porque ela cagou e sentou em cima do IPA certa vez. Enfim, uma disciplina pra esquecer e que mal valeu os créditos que deu.
HE284: Língua Inglesa Escrita III
Eu já gostei do Michael Watkins desde o primeiro dia de aula por
simples vadiagem e comodismo meu. Na verdade o primeiro dia de aula nem
mesmo existiu, ele mandou e-mails pra turma explicando como seria a
disciplina: vocês escrevem textos por e-mail a cada N dias, eu faço uma
correção e devolvo, vocês mandam uma segunda versão e eu devolvo
corrigida e com nota final, a pior nota eu excluo e faço uma média
geral. E assim foi, muito bem. Claro que aproveitei o buraco na grade de
horários pra estudar pra outras matérias e acabei chutando um pouco o
balde, mas acabei com uma das maiores médias da classe no final das
contas. Achei excelente fazer assim, não havia necessidade de irmos até
a Reitoria pra sentar a bunda e escrever enquanto o professor fica
calado. Somente para provas nós fomos até a sala oficial da disciplina
pra sentar e entregar algo escrito à mão.
O Michael já mora e dá aulas no Brasil há muito tempo, pós-doutorado vindo de Oxford com sotaque britânico e tudo que tem direito. Ao menos pra mim ele era bem exigente, eu suava pra tirar um oito nos meus textos; não sei se por descuido meu ou por ele realmente forçar uma linguagem bem formal e com vocabulário idem. Eu gostava disso, apesar dele às vezes implicar com bobagem simplesmente porque "sounds better" e o pessoal da classe ficar vermelho de raiva :-)
HE926: Iniciação à Pesquisa Científica
Essa foi uma matéria bastante light. Talvez ela tivesse sido bem
complicada se o professor tivesse sido outro. Nada contra o boa praça
Mauricio Cardozo, mas não era a área dele e ele meio que tampou o
buraco. Sem falsa modéstia ou prepotência eu achei que não vi novidade
nenhuma na disciplina. Achei até que ela teria um certo caráter prático
e introdutório pra pesquisa de verdade, mas não, era puramente teórica.
Na verdade nem tinha prova nem nada, as notas foram meio que por
presença e participação nos debates das aulas. Foi como tirar doce de
criança, mas juro que eu preferiria que tivesse sido hardcore. Pelo
menos eu sairia de lá com algo mais sólido.
Basicamente no semestre estudamos epistemologia, que é uma forma complicada de dizer "teoria da ciência, um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e as formas de produzir e espalhar conhecimentos" segundo minha versão da Wikipedia. Pra isso lemos uma cacetada de coisas soltas dos livros do Thomas Kuhn (se não me falha a memória muita coisa veio do The Structure of Scientific Revolutions) e uns 2 ou 3 capítulos do livro Ensaios de Filosofia da Linguística do Borges. Sabe aquelas aulas do tipo "o mundo não é simples como vocês pensavam"? O pessoal assustou um pouco por isso, talvez. Produção científica, refutabilidade, método e divulgação científica? Mudanças de paradigmas, crises teóricas? Achei bem legal pra anotar os nomes dos livros e ler com calma no conforto do lar.
Infelizmente pra mim essa disciplina foi dada somente agora, no segundo ano. Os calouros se darão bem melhor tendo ela já no primeiro semestre do curso, pois acaba indiretamente servindo pra abrir os horizontes de forma bem pesada pra quem nunca viu nada parecido. Algumas vezes até pensei "puta merda, bem que podiam ter falado que isso era assim logo no começo". Uma mesa redonda com o Borges e a Marilene Weinhardt da UFPR sobre pesquisas aplicadas em Literatura e Linguística ajudou muito a eu achar meu rumo, e conversar com 3 mestrandos que deram o ponto de vista de ex-alunos ajudou horrores também. Uma dessas pessoas tinha até se formado com uma monografia sobre comparação fonética entre o português e línguas élficas do Tolkien, cof cof.
HL224: Linguística III
Foi com o vice-coordenador do curso de Letras, o Marcio Renato, que
fiz essa disciplina também entendida como Sociolinguística. Variações
de sotaques, uso real da língua versus normas prescritivas, o
preconceito línguístico e análise de dados foi o grande quê nesse
semestre, creio. Foi bastante esclarecedor ler textos técnicos do
Marcos Bagno sobre tudo isso. Interessante também foi ter feito um
trabalho realmente trabalhoso (ops, não deu pra evitar) de análise de
dados sobre variações linguísticas do sul do país, tínhamos que analisar
quando e como havia concordância de plural e uso de tu no Rio Grande do
Sul e regiões de fronteira com o estado. Alguns alunos que levaram o
trabalho pra frente depois do fim do semestre até apresentaram
resultados pro VARSUL na Semana de Letras. O fato do Marcio ser o
vice-coordenador deixava mais emocionante ter essas aulas de
sociolinguística, ele tentava mostrar serviço dando aulas puxadas, sendo
exigente e até lendo trocentas páginas de regras do departamento na
primeira aula oficial. Algo como "se estudar de verdade passa,
vagabundos não tem vez". Gostei.
HL226: Teoria da Literatura I
Ahh, eu adoro o cheiro de teoria literária pela manhã. Not! Na
verdade eu sofri como nunca pra passar, graças a prova final, em Teoria
da Literatura I dada pelo alegadamente carrasco, pelo sarcástico e frio,
a lenda negra, Fernando Gil. O professor que mantém um dos recordes
de causos da reitoria da UFPR: tipo dar 2 de média pra um aluno e outro
professor dar 8 pra mesma pessoa, simplesmente porque os critérios do
ego dele possuem órbita geoestacionária própria. O pior de tudo é que
adorei a matéria, foi uma das mais interessantes e com a qual aprendi
mais, recentemente. O arsenal dele de livros pra ler foi bastante
generoso na minha humilde opinião de leitor nada feroz. Achei fantástico
o Werther de Goethe (e que junto com trocentos textos de crítica e
história literária do Antônio Cândido foi o conteúdo da primeira prova
na qual fui terrivelmente mal). Os Sofrimentos do Jovem Werther estão na
minha lista de compras já. Livro pirata não tem graça, li online graças
ao Google mas recomendo ter em papel. Se você achava que os emos eram
a última moda em chororô você não perde por esperar o suicida romântico.
Nessa época o Fernando Gil aproveitou o doutorado de um amigo dele que dá aulas de Filosofia na UFPR e o levou pra bater um papo com a gente sobre Werther e algumas coisas envolvidas (como se diz, spoilers). Não me lembro se foi na mesma época também, mas algumas pessoas da turma foram também em uma comunicação dada por outro amigo do Fernando Gil sobre a história das críticas literárias do Machado de Assis. Foi bastante interessante, fiquei até bem instigado a comprar um Machadinho em inglês pra ver como ele se sai traduzido. Na sequência ele aproveitou pra dar, e nos fazer estudar, um exemplo ruim de obra literária: Escrava Isaura do Bernardo Guimarães. Sabe a novela? Pior. Enough said, prefiro que voltem com o Werther suicida. Até que eu aguentei bem pois a obra é bastante simplória, coisa que ninguém engole como tendo alta qualidade, fato que me fez feliz por sempre dizer que esses escritores românticos brasileiros são uma merda. A coisa complicou quando ele nos fez ler ao mesmo tempo Uma Criatura Dócil do Dostoyevsky. Mais uns textos teóricos sobre enredos, tipos de narração e foco narrativo (li extraoficialmente o livreto O Foco Narrativo da Ligia Chiappini e recomendo como compensador aos textos ininteligíveis que ele passa) e a prova de tudo isso junto foi dada.
Pra ver como são as coisas, se me perguntassem o que eu achava do Dostoyevsky eu provavelmente torceria a boca no passado, mas ler Uma Criatura Dócil foi massa demais. O livro é muito bom: uma mistura de fluxo de consciência, um braindump escrito, personagens manipuladores, opressão social e de gênero, linguagem simples e vida cotidiana nada banal. Esse é outro que terei que comprar e reler no futuro. Duro mesmo foi ter que escrever sobre ele de forma razoável nas provas sem viajar demais na maionese de "personagens profundos". Passei bastante apertado e suando até o último minuto da prova final, mas passei.
HL392: Estudos Clássicos III
Não é todo dia que se tem a chance de ter aula com um blend de
personalidades em forma de professor, então não posso esquecer das aulas
com o Predador, ou Gilberto Gil, ou simplesmente o Pedro
Ipiranga. Parecia ser da Bahia, falava lento, se vestia com 5 camadas
de pano além do cachecol mesmo em dias de extremo calor em Curitiba.
Como as aulas dele eram as primeiras na segunda-feira eu quase sempre
dormia nos primeiros 30 minutos. Além disso ele tinha problemas em ser
objetivo: lembro até de questões de prova com 4 linhas e cujas respostas
eram 2 palavras, o que me deu dores de cabeça tentando entender o que
ele queria. Isso tudo, batido e misturado, acabou me rendendo uma nota
mediana na metade da disciplina e que tive que recuperar com um certo
esforço pra passar na última disciplina clássica com nomenclatura do
antigo currículo do curso. Dali em diante essa aqui passaria a ser
Literatura Grega II, mas continuaria sendo basicamente estudo de teatro
grego e tragédias.
O início leve foi com o batidaço Édipo Rei, que me surpreendeu pela simplicidade mas extremos significados. É o tipo de história que você pensa ser um saco por ser clássica mas acaba adorando quando ele estraçalha os próprios olhos com o broche de um vestido. Então começamos a ficar hardcore com Os Persas de Ésquilo, o Ronaldinho Gaúcho da tragédia. Gostei muito, principalmente pelo toque de mestre em fazer a história ser contada pelo ponto de vista dos perdedores mas tendo sido escrita pelos vencedores (os gregos, que expulsaram os invasores como se deve imaginar). Depois veio o combo das obras Agamemnon, Coéforas e Eumênides, que formam a trilogia Oréstia.
Das 3 histórias acho que a mais interessante pro público em geral seria Agamemnon, não por ser a velha história da mulher sozinha, marido na guerra, esposo traído mas que será vingado, mas sim por ter vários elementos de reviravolta e ter valores morais parecidos com os modernos em bons pontos. Coéforas é legal (rola altos assassinatos), mas bem massante: metade da obra é a maldita filha do Agamemnon chorando a morte dele e esperando seu irmão voltar. Eumênides é mais interessante pra quem estuda política ou sociologia talvez. O fundo moral e cívico é forte se você lembrar que coincidiu com o início da democracia em Atenas, fala sobre como se larga a vingança e violência e se institui julgamentos e regimes de leis.
Infelizmente não deu tempo de estudar a Medéia, de Eurípedes, oficialmente nas aulas, mas li algumas cópias de artigos sobre a obra e fiquei bastante curioso. Achei uma baita pena não termos estudado uma esposa apaixonada que é abandonada pelo marido e de repente fica psicótica maníaca assassina e mata todos os filhos no facão.
Período: 2º Semestre de 2008
HE280: Língua Inglesa Oral III
Continuamos usando o Tapestry como livro guia (não que eu tenha
comprado ele ou muito menos copiado até agora), assim como continuamos
com a Marcia. Uma vez eu ouvi falarem que é desejável e incentivado
dentro do departamento que nunca o mesmo professor dê 2 disciplinas
seguidas pra mesma turma de inglês, pra evitar vícios e ter variação no
ensino de LEM mesmo. Nunca entenderei porque tivemos novamente
Língua Inglesa Oral com ela. Todos os defeitos do semestre anterior
foram repetidos, com bônus piores. Praticamente como os 2 mandatos do
Bush Junior. Lembro de um dia ela parar a aula pra atender o celular,
ou dizer que tinha um compromisso e iria faltar, pra dias depois se
entregar pra alguém falando que foi jantar com o marido. Inaceitável.
Não tenho nada de bom pra dizer sobre essa disciplina dada por ela. Nas
avaliações de disciplinas que fazemos online, semestralmente, ela ganhou
uma péssima nota.
HE285: Língua Inglesa Escrita IV
Novamente com o Mike, me saí um pouco melhor e tive média mais que
excelente. A fórmula de enviar textos por e-mail pra ele corrigir e só
assistir as aulas em dias de prova estava funcionando bem, eu estava me
dedicando um pouco mais. Acontece que tava enchendo o saco também, eu
estava sentindo falta de um acompanhamento mais verdadeiro, sei lá, um
guia pra tirar dúvidas mesmo, não simplesmente ter marcas HTML vermelhas
ou amarelas nos e-mails que mandava. Funcionou maravilhosamente bem
antes, mas agora estava atrapalhando. Diz a lenda que nesse semestre só
seriam aprovados os alunos que conseguissem média suficiente pra passar
no IELTS ou Cambridge CAE com nota mínima aceitável. Não
arrisquei fazer eles, mas fiquei satisfeito em saber depois (por e-mail)
que o Mike acreditava que eu não teria problemas em tirar as
certificações mesmo. Pelo menos valeu pra eu dar mais uma polida e
alinhada no meu inglês escrito, que agora sim eu senti melhorar alguma
coisa, mesmo que pouco.
HL227: Teoria da Literatura II
Foi com enorme satisfação e ansiedade que fui fazer Teoria da
Literatura II com o Benito Rodriguez. Todos falavam bem dele e eu
queria botar a prova, calhou de ser na disciplina mais difícil pra mim
até então. Se tivemos problemas com o método do professor de Teoria da
Literatura I, com o Benito demos um excelente passeio: as aulas tinham
um nível de organização e cálculo do tempo gasto em cada tópico que me
espantava, 100% do planejamento da aula foi cumprido e, se bobear, até
com certo adiantamento. Me surpreendi estudando as técnicas mais frias
de composição de poesias e poemas e afins, finalmente perdi meu
preconceito por eles ao mesmo tempo que criei uma espécie de filtro
seletor. Agora eu até lia poesia, mas conseguia ver mais problemas do
que belezas nelas justamente por ter estudado a técnica e não a
"inspiração". Azar de quem escreve mal.
Lemos coisas bem variadas, desde romantismo, poesia russa e chegamos até poesia concreta brasileira. A tora de poemas lidos que tenho numa pasta é bem grossa. Fizemos também um trabalho de análise de poemas selecionados ao gosto do aluno (escolhi falar da musicalidade de Annabel Lee, What Did You Learn At School Today e Pela Luz Dos Olhos Teus), pra completar as notas junto com as duas provas de praxe. Lemos cópias de (prepar modo de leitura prolongada de emergência, pense nos Googlers querendo cursar Letras!) Poesia e Composição do livro Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro do Mendonça Teles, algumas coisas de psicanálise do Terry Eagleton, Poética: Como Fazer Versos do Mayakovsky, O Som no Signo do O Ser e o Tempo da Poesia do Bosi, Filosofia da Composição do Poe, o ensaio Poesia e Pensamento Abstrato do livro Variedades do Valery, Literatura e Sociedade do Cândido, Teoria da Poesia Concreta de vários e Marco Histórico do livro Que Horas São do Schwarz.
Eu gostei, acabei nem tendo problemas de motivação e passei por média como jamais esperaria novamente em Teoria da Literatura. Nunca gostei de poesia, não havia motivo pra achar que eu ia "ver" o que os outros "viam" do dia pra noite. Enfim, o que mais aprendi com Teoria II foi justamente saber como ver as engrenagens de um bom poema, ignorar parcialmente aquelas inspirações bobocas e melosas e ver o lado nerd da brincadeira.
HL820: Estudos Clássicos IV
Na realidade o nome dessa disciplina nesse ano foi Literatura Latina
II: Comédia, mas resolvi deixar o nome antigo porque já era a última
das disciplinas clássicas e aí fica padronizada com as outras. De agora
em diante, desde para os calouros em 2008, a matéria tem esse nome novo
que falei. Pois bem, na última disciplina obrigatória do curso que
falava do mundo antigo, estudamos somente dois grandes escritores de
comédias antigas: Plauto e Terêncio. Plauto por ser o Didi Mocó
Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo dos romanos e Terêncio por ser
o queridinho do Rodrigo Gonçalves e ter boa fama entre latinistas
como um comediante menos grosseiro e de latim digerível e elegante pra
quem quisesse estudá-lo. Tenho que mencionar também como o Rodrigo
foi, de longe, o melhor professor doutor de clássicas que tivemos até
agora. Certamente falta conhecer alguns outros, mas até o momento eu
deixo a medalha com ele que usava um site dele mesmo pra servir de apoio
as aulas. Finalmente alguém do departamento usando seu site pra valer.
Ficou que lemos Anfitrião (que fala sobre como Zeus fode uma mulher gravida fingindo ser o marido dela, pra aproveitar as circunstâncias), O Mercador, Estico e Aulularia (a famosa comédia na qual o Suassuna se fartou pra escrever O Santo e A Porca) do Plauto. Do Terêncio estudamos O Eunuco, A Sogra e Os Adelfos (que fala sobre a criação de filhos, se deve ser rígida e conservadora ou absurdamente liberal). Tirei cópia também de O Misantropo, do Menandro, pra estudar paralelamente, mas nunca o fiz. Li como extra um trecho de Época Republicana, da Maria Helena da Rocha, e os Of Contrast Between Tragedy And Comedy do Rudd Fleming e Plautus' Amphitryo as Tragi-Comedy do R. P. Bond, ambos tirados do JSTOR pelo Rodrigo e emprestados diretamente. O problema é que agora o bicho das clássicas me mordeu e estou pensando em fazer algumas disciplinas de latim ou linguística românica um dia...
HL876: Tópicos Especiais de Tradução I
Com toda franqueza eu não fazia a menor idéia do que iria encontrar
nessa disciplina quando me matriculei nela junto com outro colega de
classe. Ficamos bastante curiosos pela ementa, e ambos estávamos
interessados em alguma optativa da área de tradução. Fiquei espantado ao
ver uma chamada de classe com 3 folhas de sulfite cheias de gente
matriculada. No primeiro dia de aula tinha gente sentada no chão e nos
corredores de uma sala, até a mesa do professor. Eu consegui me
matricular nela depois de pedir uma autorização por escrito pro
professor já que a turma já havia estourado de tamanho fazia tempo.
Inclusive foi isso que motivou todos a se mudarem pra um anfiteatro em
aulas posteriores. O professor, à propósito, foi o Caetano Galindo,
de renome no curso de Letras. Mais tarde eu entenderia que boa parte
dessas pessoas estava ali pelos créditos extras, outra parte estava ali
pela fama de popstar do Caetano e o restante por curiosidade (eu
entro aqui).
De forma resumida, Tópicos Especiais de Tradução engloba qualquer tópico (rá!) que não caiba numa disciplina permanente qualquer mas no qual as pessoas estejam interessadas e tenha a ver com tradução. Nesse semestre seria os livros do Wittgeinstein e a teoria da tradução, praticamente filosofia da linguística e da tradução. Lembro de ter uma mítica aula com ementa "Eco, Muek, Bakhtin, Wittgenstein, Menard (do Borges): A tradução como a mesma coisa", mas na prática ela mal ocorreu pois o semestre focou totalmente no Wittgeinstein, seu Tractatus Logico-Philosophicus e as Investigações Filosóficas. Meu colega de classe de quem falei acima até ficou frustrado pelo Caetano jamais mencionar algo do Eco de verdade.
Como era uma das especialidades do Caetano, acabei supondo que seria bem bacana. E de fato foi, ao menos no começo com suas piadas constantes e nonsense estilo Monty Python, as aulas iam descontraídas. Só que ficou monótono: não sei se era porque saímos das aulas com o cérebro derretendo de tantos assuntos foda de se processar em duas horas (como se dá a linguagem na nossa mente? será que é assim mesmo? por que você me entende e vice-versa? por que a gente não pode não se entender? por que, afinal, a gente fala?) ou se era porque ele não era organizado e acabava se repetindo muito e atrasando o conteúdo a ser dado, motivo pelo qual a mítica aula nunca foi realmente aproveitada. De uma coisa eu tenho certeza, porém: Wittgeinstein foi uma influência bastante razoável no meu currículo de linguista, embora eu não tenha compreendido ele totalmente, estivesse cansado e um tanto decepcionado com o assunto e tenha tido dificuldades em escrever os 2 ensaios sobre ele que compuseram as médias finais.
Período: 1º Semestre de 2009
HE281: Língua Inglesa Oral IV
Pra manter a tradição de péssimos professores de língua oral da UFPR,
eis que surge [...]. Eu honestamente e cara-de-paumente tenho que dizer
que fechei as disciplinas de inglês oral com chave de ouro, de ruim, não
de bom. As primeiras aulas basicamente eram [...] distribuindo livros de
gramática pra darmos "uma olhada" e anotar o título e autor caso nos
interessasse. Sim, só isso. As aulas seguintes foram [...] organizando
duplas e trios pra dar mini-palestras sobre temas relacionados a ensino
de LEM. Com o tempo as aulas se transformaram em monólogos [...], só
[...] falava, não deixava ninguém falar, não se interessava por nos ver
conversando, só ouvindo [...] contar histórias da vida [...] e de como
[...] gostava de dirigir um SUV pra se sentir mais poderosa no trânsito.
Notas de exames orais? Depende, se [...] gostava de você [...] te dava
nota boa, caso contrário dava o mínimo esperado pra você não reclamar.
Felizmente pra [...] o sistema de avaliações da UFPR saiu do ar no fim
do semestre, logo ninguém da turma pode avaliar as aulas [...]. Outra
matéria de inglês oral que passou batida.
HL229: Literatura Portuguesa II
Mais uma matéria de literatura pra entrar na minha coleção hardcore,
passei no limite com a simpatissísima mas permanentemente exigente
Patrícia Cardoso. No dia da entrega das médias finais eu quase não
acreditei, fiquei com cara de abobado alguns minutos porque havia sido
aprovado e essa matéria tinha sido bem difícil pra mim. Um outro nome,
interno, pra essa matéria poderia ser "modernismo português", já que
essa era a ementa básica. Conceitos do que é moderno, modernismo, vida
urbana, contextualização histórica sobre arte na Europa pré-século XX,
geração d’Orpheu, literatura portuguesa no primeiro quarto do século XX,
Fernando Pessoa, Sá-Carneiro e o faz-tudo Almada Negreiros, a
metralhadora. Resumidamente é isso. Matéria que abre horizontes, mas na
prática foi protocolar.
HL233: Literatura Brasileira III
Boa matéria sobre literatura brasileira, sem sustos mas também sem
muita variedade. A professora foi excelente e tirando que faltou tempo
pra estudar mais coisas, provavelmente porque GS:V é monumental até
demais, foi até uma matéria leve no fim das contas. As leituras foram
Primeiras Estórias e Grande Sertão: Veredas do Guimarães Rosa (com
direito a uma excelente compilação ordenada de fatos da história pra
ajudar no estudo que me mostrou como o livro é mal divulgado, é meio
difícil sim mas absurdamente bom), Paixão Segundo G. H. e Laços de
Família da Clarice Lispector. Deu tempo de ler o conto Feliz Ano Novo do
Rubens Fonseca também, mas sem analisar muito.
Período: 2º Semestre de 2009
HE930: Literatura Inglesa IV
Outro nome possível para essa disciplina poderia ser Teatro Americano
Moderno, visto que estudamos basicamente peças de teatro da primeira
metade do século XX, e alguma coisinha da segunda metade. Fiz com a
professora Liana Leão, completamente maluca, de ser ligada nos 220v
mas muito gente boa e louca por teatro (ela é pesquisadora famosa de
Shakespeare no Brasil). Se não me engano lemos, estudamos e fizemos
seminários sobre Doubt, The History Boys, Wit, Amadeus, Waiting for
Godot, The Glass Menagerie, Streetcar Named Desire, Zoo Story e Death of
a Salesman. Inclusive vimos adaptações pro cinema de todas essas peças.
HL234: Literatura Brasileira IV
Foi com a Renata Telles estudando poesia moderna brasileira que
comecei a dar uma chance de verdade pra poesia. Lembro de estudarmos e
fazermos seminários sobre concretismo, poesia marginal, irmãos Campos e
mais especificamente João Cabral de Melo Neto, que foi sobre quem
estudei mesmo. Honestamente, o semestre passou meio rápido pra mim, e
nunca gostei de poesia, então eu meio que marquei presença e absorvia só
o que eu estava gostando mesmo, então não me sentia forçado a gostar
nada do que tava sendo estudado se não fosse legal mesmo. Acho que lemos
também Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Drummond
HL853: Tópicos de Pesquisa em Estudos Lingüísticos
Fiz essa disciplina com uma expectativa bastante alta com a professora
Gesualda Rasia, que se não me falha a memória tinha entrado
recentemente na federal vindo de outra no RS. Infelizmente eram poucas
pessoas na classe, algo como 5 pessoas, e na última semana era só eu e
outro cara, dada a decepção do resto da turma. As aulas eram fracas em
conteúdo pra quem estava procurando uma linha de pesquisa pra monografia
etc. Como a professora era da Análise do Discurso, acabamos lendo coisas
a respeito, mas foi uma disciplina que passou batido e foi cobrar seu
preço depois lá na minha monografia... enfim, acabamos lendo uns textos
do Borges Neto da própria UFPR (Ensaios de Filosofia da Linguística) e
repassando alguns trechos do Kuhn.
HE304: Estudos Anglo-Americanos
Eu não entendi muito bem o nome da matéria até ela começar, e no fundo
eram aulas sobre Shakespeare com a Célia Arns, uma das três viúvas
de Shakespeare como brincam entre si, pesquisadora de longa data e
apaixonada pelo cara. Não lembro direito o que estudamos, mas se não me
falha a memória foram três peças dele: Romeu e Julieta, Otelo e Titus
Andronicus (as lemos e vimos adaptações pro cinema de todas). Eu
simplesmente fiquei louco com Titus Andronicus, é fantástica. Incrível
mesmo, a ponto de me sentir impelido a escrever um ensaio curto traçando
paralelos extra-peça com a tetralogia Oréstia do Ésquilo e processos de
hamartía. Pudemos ir ver também um ensaio antes da estréia de uma
montagem de Otela do Barracão em Cena, muito interessante.
Período: 1º Semestre de 2010
HL821: Língua Latina I
E foi assim que caí de amores de vez por matérias clássicas. No momento
em que escrevo isso já estou me programando pra fazer mais um semestre
de Latim. Essa disciplina fiz com o Rodrigo Gonçalves, fantástico e
excelente professor. Sabe puxar a turma e as aulas são bem divertidas. O
Rodrigo usou como guia pras aulas uma tradução in-house do Reading Latin
feita por professores da UFPR (ainda não lançada, então fomos cobaias
também). O método é muito bom, o único porém era a necessidade de sempre
estar re-estudando os capítulos já vistos, ou então se perdia muito
fácil o ritmo das aulas. Fomos do início do Reading Latin até a seção
1G, o suficiente pra saber quase tudo no tempo presente que possa ser
necessário pra não se perder num texto e saber identificar o que é o que
e até criar construções básicas. As seções do Reading Latin que seguimos
começam com vocabulário bem básico e sentenças quase agramaticais mas
sempre usando a Aulularia como base, a história do pote de ouro, até ir
ficando mais complexa. Bem didático, e foi bom usar um guia como o
Reading Latin já traduzido, é caro comprar ele todo sozinho e é
reconhecidamente um bom método pra aprender Latim.
HE927: Literatura Inglesa I
Pude ter a honra de ter estudado com a professora Luci Collin, um
doce e extremamente apaixonada pelo que faz, música, poeta renomada e
especialista em literatura irlandesa (aliás, se ler isso um dia
professora, a sua tradução autografada de Hábitos do Musgo me faz sorrir
até hoje, grande livro!). Passamos por um panorama histórico fodido da
literatura britânica e americana: períodos Anglo-Saxão (inclusive
Beowulf), Anglo-Normando, Chaucer, Era Elizabetana, séculos 17, 18 e 19
(romantismo e realismo). Da parte americana vimos literatura colonial,
revolucionária e o período nacional inicial. Também deu pra ver algo da
renascença americana (transcedentalismo e romanticismo) e pós-guerra
civil.
HE929: Literatura Inglesa III
Fiz mais uma disciplina com a professora Célia e pude participar do
Abril de Shakespeare que ela organizava todo ano com a professora Liana.
Fomos em uma palestra do Gustavo Franco (ex-Banco Central) que lançou um
livro sobre aspectos econômicos em peças do Shakespeare, bem como
análises sobre as produções de teatro da época. Genial. Contos eram a
base do semestre, porém infelizmente não lembro o que estudamos
exatamente... acho que tivemos uma lista até longa de contos pra ler e
estudar: Poe (Tell-tale Heart), Roald Dahl (Lamb to the Slaughter),
Charlotte Perkins (Yellow Wallpaper), Hawthorne (Birthmark), Sherwood
Anderson (Death in the Woods, que daria um baita filme), D. H. Lawrence
(Second Best), Katherine Mansfield (Doll's House), F. Scott Fitzgerald
(Babylon Revisited), Faulkner (Rose for Emily), Flannery O'Connor (Good
Country People), Saki (Tobermory, Stalled Ox, Open Window), Evelyn Waugh
(Mr. Loveday's Little Outing) e Oates (The Others).
HE881: Fonologia da Língua Inglesa II
Consegui me matricular pra fonologia como queria há muito tempo e tive
que cursá-la de manhã, pois as únicas professoras de fonética e
fonologia disponíveis diziam que preferiam dar aulas no período matutino
somente, mas com acertos no trabalho deu certo. Fiz com a professora
Vera Roloff e a ementa era meio básica, mas ainda assim deu pra suar
porque eu tava bastante enferrujado em alfabeto fonético e não praticava
com inglês há algum tempo. Tínhamos que obviamente identificar sons,
ritmos, tons etc do inglês, pensando sempre em problemas de entonação da
língua. Foi bom, a professora Vera tinha um vozeirão bonito e acho até
que comentou uma vez de ter ido num show de rock com a filha ou
sobrinha, muito bom! Eu tentei cursar Fonologia I por protocolo mesmo
mas não deu, falaram que não faria sentido se já havia cursado a II,
fiquei só com ela então. Tá ótimo.
Período: 2º Semestre de 2010
HE928: Literatura de Língua Inglesa II
Acho que foi com a Luci novamente que fiz essa disciplina, inclusive
tivemos uma apostila montada por ela com poemas até cansar. Lemos
Ishmael Reed, Poe, Dylan Thomas, Alicias Keys. Walt Whitman, oh Walt
Whitman! Alucinante, simplesmente alucinante. T. S. Eliot foi lido
também, e Cummings, Ezra Pound, Emily Dickinson, Bukowski e a
contracultura americana (geração beat, praticamente). Estudamos,
naturalmente, técnicas de análise e elementos de escrita poética.
Estudamos também lendo e fazendo seminários de modernismo na pintura,
Thomas Hardy, Oscar Wilde, Virginia Woolf, a geração perdida (Fitzgerald
e Hemingway), K. Mansfield, James Joyce, modernismo na música, Bernard
Shaw, D. H. Lawrence, Gertrude Stein e a Harlem Renaissance.
HL822: Língua Latina II
Cursei essa com o Guilherme Gontijo, com um método diferente. Ele
confiava mais nos alunos para estudarem por conta própria, o que fazia
parecer que a aula era mais solta, sem muito planejamento, mas eu
gostava assim, mesmo que fosse mais difícil pra quem não tinha tempo de
estudar sozinho como eu. Foi um pouco traumático porque uma das provas
era pra traduzir um trecho da bíblia cristã (gênesis) e eu travei
completamente, não tinha mínima noção do contexto pra ajudar, fui bem
mal. Acho que lemos Bacchides do Plauto, da segunda parte do Reading
Latin.
Período: 1º Semestre de 2011
HL827: Leitura em Língua Latina I
Essa matéria também com o Guilherme Gontijo teve um gosto meio
estranho. Ela foi basicamente leituras no original da Vulgata, a bíblia
cristã escrita em latim vulgar. Lemos com orientação, traduzindo
conforme íamos, e discutindo as traduções, o livro de Iob ainda da
bíblia hebraica. O livro de Iob, embora religioso, é interessante pra
ler em latim porque além de ser possível ver diferenças de traduções em
português pro original, a temática é legal: o demônio faz uma espécie de
aposta com deus pra testar a fé dos humanos, e desce a lenha na galera
(no caso, no Jó). A história do livro tem uns 2.500 anos
aproximadamente, então foi bem legal conseguir lê-lo, mesmo com
dificuldades. A avaliação final tinha pouco a ver com ele, porém, era a
leitura e tradução de dois textos do Higino: um pedaço de Tiresias e
outra de Atreus. Olhando hoje, depois de tanto tempo sem estudar latim
pra valer, fico impressionado como consegui traduzir tanta coisa numa
prova; duas páginas, caramba!
HL823: Língua Latina III
Meu terceiro semestre estudando latim foi o mais produtivo. Não porque
estava indo bem nas aulas, pois não estava, mas porque estava empolgado.
Não pude estudar nas férias pra esse semestre, então sentia o tempo todo
que não tava dando conta, mas me pegava fora das aulas tentando traduzir
ou escrever em latim frequentemente. Foi aí que pensei em juntar o latim
com algo de linguística pra minha monografia. Tive essas aulas com o
Guilherme também, acho, e foram bem boas. Continuamos usando o método do
Reading Latin, passando por Amphitruo do Plauto, alguns textos de Cícero
e pude pegar uma cópia da edição traduzida pelos professores da UFPR do
Reading Latin, que posteriormente viria ao mercado por gente da UNICAMP,
acho.
Período: 2º Semestre de 2011
HL122: Linguística Românica
Cursei uma das disciplinas que sempre quis desde que entrei na federal
com o Bernardo Brandão, mineiro boa praça. Eu já tinha o Linguística
Românica do Rodolfo Ilari em casa, e finalmente pude ler com orientação,
além de outros bons textos do Auerbach e Basseto que passam desde a
diferenciação básica de latim vulgar, latim falado urbano, latim
clássico, latim eclesiástico, "orgânica" do latim, início da formação
das línguas romance, até chegar em línguas modernas. O semestre foi bem
tranquilo, as aulas eram bem suaves e dava pra acompanhar bem, e quem
lia algum material em casa (visto que na internet tem muita coisa sobre
linguística românica) se adiantava bem: dialetação, fronteiras
linguísticas da românia, sistemas de dialetos da península ibérica, o
que é filologia, geografia linguística, substrato, superestrato,
adstrato, queda do império romano etc. Deu até pra aproveitar bastante
conceitos e anotações no meu livro do Ilari pra usar na monografia mais
pra frente.
HE894: Orientação Monográfica em Inglês I
Meio complicado como cheguei aqui. Primeiro eu tinha sido meio que
convidado pra ser orientando de um professor, aí não achei muito
promissor, precisei viajar pra fora do país pra trabalhar, acabei
vadiando e tive que recomeçar a disciplina. Fui atrás de um professor
que tinha contato mas ele iria pro doutorado na França e finalmente me
apresentou pro Alessandro Rolim de Moura, o orientador dos meus
sonhos. Sabe aquele orientador mala que não deixa você pesquisar o que
quer? Que tenta falar através do seu texto? Que é cri-cri? Que nunca tá
disponível? Então, o Alessandro era tudo isso ao contrário, eu não podia
agradecer mais ele pela paciência com meu tema e por não ser muito da
área. Meu tema era análise estatística de corpora do Cícero em latim
clássico, muita programação em Python e NLTK, mas o Alessandro é
referência em clássicas, com livros bilíngues em grego e doutor em
Oxford. Ele me apoiou muito, dando ótimas referências de leitura, mesmo
sabendo das minhas limitações pra ler algo em latim clássico. A única
restrição dele foi que eu fizesse em todo o semestre apenas um projeto
de pesquisa, que acabou dando metade da monografia depois. A monografia
eu terminei no semestre seguinte, fazendo a versão II dessa disciplina.
Período: 1º Semestre de 2012
HL114: Sintaxe I
Fiz essa disciplina com a professora Patrícia Rodrigues após ter
tentado fazer Sintaxe II mas desistido. Diziam que não tinha
pré-requisito e achei muito puxado, então fui fazer Sintaxe I na
humildade mesmo. Sofri pra passar, acho que em 5 anos de federal foi
minha segunda final. O problema todo é que por mais que fizesse sentido,
eu não concordo, como linguista, com vários pontos do gerativismo e
chomskysmos da disciplina, então era difícil eu pensar com a mentalidade
exigida, e doeu pra passar por isso. O livro base era "o do Mioto", o
Novo Manual de Sintaxe, e fomos até Teoria da Regência e Vinculação.
Lemos coisas aleatórias também, como artigos do Borges e tal.
Passamos por um panorama das correntes da sintaxe moderna das últimas décadas até revisões mais atuais do próprio Chomsky. Cansamos de desenhar árvores sintáticas (parse trees) de estruturas profundas e de superfície. Pra quem é da computação, vai saber a ementa da disciplina se já tiver estudado compiladores. Era engraçado que muitos alunos também não viam sentido muito científico na coisa toda, e uns 2 ou 3 lá sempre discordavam da professora explicitamente, o que causava discussões até bem interessantes. Pra mim, que não me considero nem estruturalista nem chomskysta de carteirinha foi bom, mas ainda acho gerativismo mais filosofia do que ciência.
HL352: Linguística Indo-Européia I
Ah... a linguística indo-européia. O assembly do pessoal de
linguística. Eu achei simplesmente alucinante quando vi a oferta dessa
disciplina, nem todo aluno de letras tem uma oportunidade dessa, de ler
com orientação e discutir algo tão baixo nível sobre línguas e da onde
elas vieram. O professor Márcio Renato disse que sempre quis dar
essa disciplina mas a bibliografia não ser em português nem em inglês
era problema. Algumas coisas eram em alemão, mas ele mastigou tudo pra
turma, e dava sim pra ler muito material em inglês por conta própria. Eu
li pelo menos, principalmente o Indo-European Linguistics do James
Clackson. Além de avaliar conceitos gerais e históricos sobre
pesquisas do Indo-Europeu (em outras palavras, da onde a sua língua
veio), precisamos escrever um mini-ensaio sobre certos tópicos polêmicos
relacionados. Escolhi discutir um artigo do Mario Alinei, sobre sua
Hipótese da Continuidade Paleolítica, até razoável em alguns pontos
(principalmente o darwinista, se é que posso dizer isso) mas bastante
polêmica e rebelde entre linguistas de verdade. Lemos também referências
históricas como Franz Bopp, algo sobre a gramática dos Grimme e claro
Friedrich Diez e Schleicher. Passamos pelas teorias da Anatólia, métodos
histórico-comparativos, hipótese Kurgan e coisas aleatórias do Proto-IE.
Detalhes fonéticos, fonológicos etc eram vistos na versão II da
disciplina, que não tive horário pra encaixar.
HL060: Evolução do Teatro no Brasil I
Fiz essa disciplina com o professor Walter Lima na tentativa de
pegar alguma informação sobre teatro brasileiro, visto que já tinha
estudado o grego, romano, americano e britânico. Faltava o brasileiro,
afinal, pra dizer que conheço alguma coisa disso. Era uma forma de
estudar algo mais leve enquanto terminava minha monografia, também, mas
os estudos foram interrompidos pela greve da federal, a maior de todos
os tempos. Foi uma droga, a reposição de aulas acabou prejudicada e
vimos só metada da ementa, com avaliações por e-mail no final do
semestre. Mas valeu a experiência, o Walter é um monstro de teatro e as
aulas eram muito boas, eu gostava do estilo, pena que a greve estragou
tudo. Vimos um panorama geral do teatro feito no Brasil desde a época da
colonização, teatro religioso, popular e até cair um pouco em teatro
moderno. Um ponto engraçado foi eu ter escolhido resenhar, pra uma
avaliação, o Artur Azevedo e uma peça sua. Mal sabia eu que ele tinha
sido tema de doutorado do professor, então imagine a vergonha que passei
recebendo minha nota e correções... :-)
HE895: Orientação Monográfica em Inglês II
Essa disciplina é obrigatória pra defender sua monografia com a banca
de avaliação. Eu até tentei juntar ela com a outra num semestre só, pra
adiantar o tempo pra me formar, mas meu orientador achou melhor fazer
com calma. No final das contas ele tinha razão. Se tivesse feito tudo
num semestre teria ficado horrível, e mesmo tendo mais tempo acho que
não ficou como eu queria. Fácil, fácil eu gastaria mais 6 meses pra
deixar a monografia redondinha. Enfim...
Minha banca foi meio complicada. Normalmente uma banca é seu orientador e pelo menos mais dois professores, até 3, até 4, dependendo. Em alguns casos até um amigo deles de fora, embora isso seja algo reservado mais pra mestrandos e tal, mas pode acontecer. A minha foi meu orientador e mais um professor, o José Borges Neto. Como a UFPR ainda tava na maior greve da sua história (no ano do centenário), tava ótimo pra mim já. Por um lado o Borges era só um na minha banca, professor aposentado já, por outro lado é um dos professores mais respeitados de todos os tempos em questão de linguística na UFPR. Além de conhecer processamento de língua e linguagem com computadores. Tirei nota máxima, fiquei feliz, passei, 99% do curso completo.
Período: 2º Semestre de 2012
HE880: Fonologia da Língua Inglesa I
Pra minha surpresa essa passou voando por mim, até fazendo barulho.
Como eu já havia feito Fonologia do inglês antes, e manjava suficiente
até de fonética pra me perguntarem qualquer coisa de aula, a professora
Eva Dalmolin simplesmente me aprovou após a primeira aula, e
autorizou um adiantamento de créditos. Não faço nem idéia como eram as
aulas, me ajudou bastante não precisar ir lá toda semana!
HL304: Tópicos Especiais de Linguística
Além de lermos partes da Introdução à Leitura de Saussure do Simon
Bouquet, obviamente tivemos que consultar nossos velhos CLGs
laranjões (Cours de Linguistique Générale) pra essa disciplina.
Considerando que foi minha última antes de pegar meu diploma, eu achei
fantástica. Embora o nome dela seja genérico, o professor Bruno
Dallari acho que acertou bem na escolha do tema. Não é sempre que se
pode revisar bibliografia linguística como Saussure estudando
manuscritos e vendo uma retomada das suas idéias de linguística assim.
Essa tal retomada é muito recente e foi bom discutir isso com mais
conhecimento por estar no fim do curso.
Basicamente discutimos o que é o CLG enquanto um livro de anotações e edição particular, não uma obra do Saussure e sim uma obra de seus editores. O que tem de diferente entre o que se diz ser Saussuriano e o que ele escreveu nos manuscritos e a ascensão e queda do estruturalismo. Eu diria que foi uma disciplina de filosofia da linguagem, talvez um pouco complicada pra quem tava no começo do curso ou era calouro pegando suas primeiras optativas, mas eu gostei por ser "leve" e relevante a discussão.