rant sobre microblogging

26 de outubro de 2009

Alguns amigos meus já não aguentam mais me ouvir falar mal do Twitter, mesmo assim resolvi fazer um rant sobre microblogging pensando basicamente nele. Antes de começar a usar o Twitter eu já falava mal dele, mas então comecei a usar por causa de features específicas e até pelo menos 5 minutos atrás eu não conseguia falar bem do serviço deles por muito tempo. Isso chega a ser engraçado pra alguém com tempo de sobra pra escrever tudo isso, deve significar que gosto mais do Twitter do que realmente admito. Enfim, resolvi listar problemas e idéias que na minha opinião são relevantes. Ato popularmente conhecido como chorar pitangas :-)

Já me ouviu falar do Twitter antes? Se sim, não tem nada aqui que seja realmente novidade...

1. Reply de twits

Se você já mencionou @caio1982 alguma vez em um twit seu e estranhou eu não fazer nenhum comentário a respeito, ou pior, recebeu uma direct message ou e-mail meu com assunto "re: twitter" não leve pro lado pessoal. Eu não faço replies para twits. Nunca. E não farei até que reply de mensagem seja tratado como metadado de verdade. É estúpido: se você não clicar em reply e não botar o @foobar no começo do twit o sistema ignora isso às vezes, não é algo consistente (nem para replies nem para retwits), não fiz testes pra ver como é mesmo mas acontece de darem reply pra uma mensagem e quando você vai ver é um twit já antigo na timeline. Duh!

Se você se propõe a criar timelines, o mínimo que se espera é que você consiga manter um encadeamento dos itens (twits) de forma consistente e sem adicionar peso nas costas do usuário, como quando antigamente era preciso ser rápido e responder um twit na hora, caso contrário você iria responder sobre flores e seu amigo já havia postado algo novo sobre esterco de vaca. Foi isso inclusive que matou o Quotably.com, uma pena.

Não importa o que você digita, se foi via botão de reply deveria ser tratado como tal e de forma transparente. A desculpa que isso é compatibilidade com SMS não cola, quase ninguém usa SMS no Twitter hoje em dia (foi só a centelha e chamativo no começo), quem usa Twitter no celular já usa um aplicativo específico para isso. Além disso o Twitter quase não suporta SMS, se você não está em país foda você é ignorado.

Outro ponto que me parece estúpido no funcionamento de replies em twits é quando você estranha determinada pessoa por não ver twits dela já faz algum tempo, aí você decide abrir o perfil dela manualmente e percebe que ela tem sim postado bastante coisa... mas falando com outras pessoas e você não ficou sabendo. Mas como assim, doutor? Por algum motivo sem sentido o Twitter parou de exibir todos os twits, mesmo replies para terceiros, e agora só mostra replies de seus following se você estiver seguindo a pessoa a quem seu following deu reply. É nonsense total, uma rede social não deveria se limitar a comunicação um-para-um... é (quer dizer, era) útil ver pessoas novas apra seguir em conversas não iniciadas por você.

2. Metadados não deveriam ser contados

Eu acho bacana e charmosinho manter o limite de caracteres em 140 no Twitter, acho legal. Infelizmente isso atrapalha quando a ferramenta cresce absurdamente e começam a entupir twits com tags #foobar #thereitis #myarse. Pense num twit que já é uma frase meio longa, com várias tags e que alguém resolva fazer retwit. Lá se vão mais caracteres no lixo pelo RT: antes da mensagem. Quando você percebe já não tem espaço pra mais nada. Seus 140 caracteres foram pro espaço.

Uma solução pra isso seria não contabilizar metadados (hoje consolidados) como RT: ou #tags e fazer com que eles até fossem contabilizados, mas separadamente do texto do twit. Você teria 140 caracteres pro twit e outros 140 pra metadados - chutando o balde na quantidade de metadados e isso se quiser usá-los, é claro. Um mockup rápido que fiz talvez ajude a entender a contagem individual de cada um como imaginei na minha cabeça:

Mockup de metadados no Twitter

Além disso, não dá pra saber como o Twitter irá implementar suporte a RT: ainda, mas pelos screenshots parece que será tudo ou nada, clicou em retwit já era, não poderá editar ou acrescentar nada ao twit original; o que quebra o uso que a maioria das pessoas dá a feature. É algo que deveria ser modificado antes de ir pra produção também, IMHO.

3. Namespace privado

Demorou para o time do Twitter adicionar suporte a namespaces pra empresas, governos ou instituições além de uma pessoa comum. Na verdade até seria legal qualquer usuário comum ter um namespace próprio, meio que na mesma idéia de namespaces em páginas wiki. Vivem dizendo e reclamando que o Twitter não possui meios de ganhar dinheiro, eu acho que namespaces poderiam ser vendidos pelo Twitter assim como domínios de site são. Eu, por exemplo, poderia pagar pelo namespace "begotti" e pessoas da minha família que usam Twitter poderiam ter perfis como:

http://twitter.com/begotti/pai
http://twitter.com/begotti/pedro

De quebra você poderia ter uma página de namespace custom, quase como de um perfil normal, mas não tão dinâmica. Assim você teria grupos ou aglomerados "oficiais" (palavrinha que ajuda na idéia de vender namespace para instituições, também). Eu não aguento mais ver perfis da NASA, cada um tem um nome diferente começando com NASA mais um underscore ou então Astro mais underscore e então o nome do astronauta. Isso é feio. É idiota. Poderiam, no lugar disso, ter algo como:

http://twitter.com/nasa/news
http://twitter.com/nasa/kelly
http://twitter.com/nasa/ron
http://twitter.com/nasa/astronauts

Empresas grandes (como a Digium, virtual dona do Asterisk.org) poderiam ter seus namespaces também agrupando perfis do Twitter de seus departamentos etc. Algo assim:

http://twitter.com/digium/sales
http://twitter.com/digium/switchvox
http://twitter.com/digium/events
http://twitter.com/digium/press

Fato: se você criar uma forma das pessoas se sentirem especiais no meio de um mar de usuários, alguns irão topar pagar por isso. Acho que vale o esforço e agregaria algum valor que hoje é desperdiçado. Hoje já fazem checagem de perfis de celebridades e políticos, fazer isso para instituições ou usuários querendo namespaces não seria mais complicado do que já é hoje. Namespaces seriam uma forma de você ter um ID único mesmo ele já tendo sigo pego por alguém antes. Claro, corre-se o risco de criar algo "bom demais" para algo que nem mesmo é visto como problema pela maioria dos usuários.

4. Contas pagas com diferenciais

Outra forma do Twitter gerar algum dinheiro seria dar mais liberdade criativa para contas pagas. Por exemplo: não faz o menor sentido eu entrar no perfil da Amazon e ver aqueles quadrados de following e followers deles... quem se importa com essas pessoas? Role a página e verá o espaço desperdiçado ali. Se perguntar pra Amazon o que eles achariam de usar esse espaço pra botar boxes de produtos e coisas deles ao invés de boxes de usuários, acho que já sabemos a resposta. Pense nessa idéia para empresas como a Apple pensou no iTunes LP para selos e gravadoras. Imagine o que o Submarino, Americanas.com ou mesmo o Twitter do Passagens Aéreas poderiam fazer com isso.

Eu adoraria dizer também que poderiam cobrar para se ter contas de conteúdo privado, mas vou me limitar a reclamar de filhos da puta covardes e medrosos que acabam com toda a idéia de conteúdo online: se você não quer nada seu na internet, então se tranque no quarto sem energia elétrica, cacete. Imagine se todo mundo protegesse seu perfil para somente followers poderem ver seus twits, o Twitter seria uma rede social ultra secreta onde nada é legível e você quase não tem conexões. Não chegaria ao ponto disso não ser possível mais, apenas precisariam pagar pela suposta (e sempre fraca) privacidade.

5. Anúncios com sharing entre usuários

Eu detesto anúncios e costumo chamar de mendigos virtuais pessoas que entulham seus sites pessoais com coisas do Google só para ganhar alguns centavos por clique. É irritante e costuma (no meu caso) manchar a imagem do lugar que estou visitando. Porém, no Twitter poderia existir uma espécie de "anúncio do bem" ou "ads justos" segundo minha mente doentia. O principal ponto da idéia é: compartilhar o rendimento dos anúncios com os donos dos perfis ou namespaces. Segundo ponto: anúncios padronizados e não intrusivos no layout do Twitter, com pouca margem pra abuso visual. Terceiro ponto: os anúncios podem ser desligados caso você não queira ganhar algum dinheiro em parceria com o Twitter ou simplesmente não ache que ads são esteticamentes super ultra hiper pirados. Isso tudo, claro, para usuários web do Twitter... tratar usuários via aplicativos é outra história (que eu prefiro ignorar).

Uma idéia possível, estilo cabeçalho antes de qualquer coisa na página (o link em azul é horrível, eu sei, mas foi de propósito pra ficar visível no exemplo e eu poder continuar falando sem gritarem "dê exemplos"):

Mockup de Anúncio no Twitter

6. Protocolo aberto

Querendo ou não, o estilo de microblogging que o Twitter criou não vai morrer, logo é algo que não pode, não deve, e mais cedo ou mais tarde não irá ficar na mão de um único site. É muito 1998 ter medo da concorrência e não incentivar a criação de um protocolo aberto e distribuído de microblogging. Se o Twitter não liderar isso, vai comer poeira porque isso é uma questão de tempo para acontecer. O Twitter inclusive poderia, como prova de boa fé, dar um passo inicial aprendendo com o Data Liberation Front do Google e lançando um "Escaping from Twitter" no molde dos projetos já cobertos pela idéia. Uma vez fiz um script tosco pra fazer backups dos meus twits, de vez em quando eu rodo ele e guardo tudo para o dia em que houver concorrência de verdade ao Twitter. De novo: é uma questão de tempo, um dia eu ou qualquer outra pessoa sairá de lá por um lugar melhor. Infelizmente não é agora que veremos concorrência de verdade ao Twitter, o Identi.ca tem que comer muito arroz feijão ainda.

7. Feed no lugar do antigo tracking bot

A principal feature do Twitter que me convenceu a usá-lo foi o bot via instant messaging que existiu durante algum tempo. Isso antes da famosa baleia voadora do Twitter virar moda. O bot vivia dando problema e foi o primeiro a ser exterminado da face da terra, IIRC. Se hoje a cada baleia voadora que vejo eu ainda imagino nerds sujos suando pra manter dois servidores caseiros no ar com todo o site, imagina naquela época como era. Uma pena, porque era muito, muito legal pedir tracking de palavras pro bot e ver ele te mandar mensagens sempre que alguém mencionava XYZ em qualquer lugar do mundo. Entendo que deveria ter um peso enorme no serviço deles, deveria ser algo caro, mas acho que dá pra retomar a idéia criando feeds públicos de certos termos que todo mundo procura. É ingênuo achar que eles criavam dois trackings diferentes se eu e mais uma pessoa pediamos "brasil", logo feeds públicos e quase estáticos não seriam um problema, acho.

8. Trending topics é frágil demais

Eu não costumo navegar pelas entradas do box trending topics do Twitter, mas vivo dando uma olhada pra ela só pra ver quem está na lista. Não é uma feature que eu uso, mas talvez isso seja devido a forma como ela funciona hoje. Pra mim, os trending topics são uma lista pequena demais. Particularmente pequena quando começa os vários bombing semanais com nomes de artistas e eventos. Brasileiros já provaram ser especialmente idiotas (todavia eficientes) em entupir os trending topics com bobagens como "artista-famoso tem que voltar pro brasil!". Uma idéia seria ter uma página com uns 50 trending topics, só que gerada de tempos em tempos (sei lá, 1 minuto é realtime suficiente nesse caso) e armazenada estaticamente, como os trackings. Quando acontece bombing nos trending topics fica impossível saber o que realmente é trending topic e o que é spam camuflado de "vamos lá amigos, vamos fazer XYZ virar trending topic" no melhor estilo corrente de e-mail. Isso não é trending, isso é histeria coletiva.

9. Encurtadores de URL

Acho difícil existir outro serviço que tenha ajudado tanto na explosão dos encurtadores de URL quanto o Twitter. Até hoje aparece algum novo querendo ser mais curto ainda ou com nome bonitinho. Eu uso somente o TinyURL, sei lá porquê, só sei que não gosto do Bit.ly e no fundo não gosto de nenhum desses serviços sujando os twits postados online. Vira uma zona, trocentos serviços ao mesmo tempo, você não sabe o que é texto e o que é URL mais, tosco total (tento ao máximo usar custom alias no TinyURL pra aliviar um pouco mas nem sempre é possível).

Um: o serviço pra encurtar a URL tinha que ser configurável ou pelo menos por padrão não encurtar nada que eu digitei. Achei podre uma vez ter colado um link em um twit e apareceu um link pro Bit.ly sem eu querer. Dois: por que diabos não somem logo com o nome dos serviços nas URLs? Ninguém quer saber o serviço por trás, as pessoas querem saber que XYZ é um link e querem abrir ele, só isso. Poderiam muito bem filtrar no momento do post do twit a string http://tinyurl.com/yhl3htw para virar http://yhl3htw que de quebra ajudaria a diminuir a contagem de 140 caracteres. Eu não acho que URLs sejam metadados e o meu medo desses serviços de URLs falirem e levarem metade dos links do universo pro limbo é coisa pra outro texto, mas uma ajudinha mascarando endereços seria legal.

10. Listas e favoritos

Vou juntar duas idéias em uma só: o novo recurso de listas é muito legal mas eu senti falta de poder criar além de uma lista pública ou privada uma lista somente para followers (uma mistura de pública e privada, talvez) e pela primeira vez na minha vida durante essa semana que passou eu vi alguém usando o recurso de twits favoritos do Twitter. Na minha cabeça se isso demorou tanto tempo é porque (por amostragem) poucos usam mesmo, então talvez pudessem permitir marcar um perfil do Twitter como "hot" e não marcar twits como favoritos. Twits são muito etéreis pra serem marcados como favoritos, não faz sentido na minha cabeça, pra isso já existem bookmarks. Eu usaria o recurso de marcar algum perfil como "hot" no sentido de legal, interessante, sempre com algo que quero ler. Mas marcar um twit como favorito? Nah.

É isso. De volta para a caverna dos nerds reclamões agora :-)

© caio1982